domingo, 27 de julho de 2008

.cosmic age.

Aviso: Esta imagem é um roubo deliberado e autorizado. Thanks coat! :)

Some people are born terribly old, wrinkled inside from the very first shout of life out of the womb. For them nothing will ever be spontaneous, everything seems to be strictly planned. They have a natural born lucidity. Their eyes will never have that child liquid gleam. We will always remember their old appearance, the spleen layer on their eyes and the grey hair. It feels as if they were never young and childish.
Yet, there are others whom old age will never hit. The number of teeth replaced or how thick their glasses are does not matter. There is no ultrasound or crutch that can determine their age. Those people will never be old for they are given a cosmic age. An age where they rush the blood on their veins, expand their arms and almost touch the limits of the skies. That age when their adrenaline accelerates their hearts and drops them into an aura of magnetism.

sábado, 26 de julho de 2008

.amor de origami #1.


"Well you know I have a love, a love for everyone I know"

I see a darkness, Bonnie 'Prince' Billy

quarta-feira, 23 de julho de 2008

.insustentabilidade.

(Serralves, Fevereiro de 2007,
uma fotografia da minha coisinha ruim)

A luz ténue dos candeeiros de rua eleva a noite. Desenha o vulto dos segredos suspirados a medo pelo vento às folhas das árvores. O cadeirão das flores repousa na varanda. Cumpre a sua função albergadora de pensamentos alheios. Eu fumo cigarros e olho para os meus pés vestidos pelos sapatos cinzentos. E penso, penso que já não sei fazer poemas. Os olhos já não se fecham e a mão já não deriva sozinha. Agora escrevo aquilo que não sei. Tenho os olhos abertos e a vertigem na boca.
A insustentabilidade assusta-me. A leveza desse amar perene consome-me. Faço-lhe as contas, divido-o pelo carnal e multiplico-o pelo platónico. O resultado é incerto, arredondado a uma estimativa pois que o amor não tem mesura. E as contas que fiz, guardei-as. Deixei-as perdidas, anotadas em versos de papel rasgado.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

.ladies and gentlemen we are floating in space.

...Take the pain away
Getting strong today
A giant step each day
All I want in life's
A little bit of love to take the pain away
Getting strong today
A giant step each day

I've been told
Only fools rush in
Only fools rush in
But I don't believe
I don't believe
I could still fall in love with you

I will love you 'til I die
And I will love you all the time
So please put your sweet hand in mine
And float in space
And drift in time
All my time until I die
We'll float in space just you and I

I think I'll love you today
I guess that's what you get
And I don't know where we are all going to

Life don't get stranger than this
But it is what it is
And I don't know where we are all going to

Everything happens today
And we're out here to stay
And I don't know where we are all going to

I think I'll love you today
I guess that's what you get
And I don't know where we are all going to

sábado, 19 de julho de 2008

.há coisas assim #1.

.ouvir alheio.

estava um calor ensurdecedor
doía-lhe a vagina de peito
faltava-lhe o oixigénio
achava que tinha um cancaro
foi fazer uma ocografia
e afinal era uma ursula no estogamo!

.desassossego.


"Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir - é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida."

Livro do Desassossego, Fernando Pessoa

.bichos.




[zorba e jackie]

"Sentia-se cada vez pior. Agora nem a cabeça sustinha de pé. Por isso encostou-a ao chão, devagar. E assim ficou, estendido e bambo, à espera. Tinha-se despedido já de todos. Nada mais lhe restava sobre a terra senão morrer calmo e digno, como outros haviam feito a seu lado. É claro que escusava de sonhar com um enterro bonito, igual a muitos que vira, dentro de um caixão de galões amarelos, acompanhado pelo povo em peso…Isso era só para gente, rica ou pobre. Ele teria apenas uma triste cova no quintal, debaixo da figueira lampa, o cemitério dos cães e dos gatos da casa. (...) E sempre se sentiria acompanhado uma vez por outra. Não que fizesse grande fica pé naquela amizade. Longe disso. A menina dos seus olhos era a morgada, a filha, que o acariciava como a uma criança. A velha toda a vida o pusera à distância. Dava-lhe o naco de broa (honra lhe seja feita), mas borrava a pintura feita logo a seguir: - Ala! E ele retirava-se cerimoniosamente para o ninho. Só a rapariga o aquecera ao colo quando pequeno, e, depois, pelos anos fora, o consentira ao lume, enroscado a seus pés, enquanto a neve, branca e fria, ia cobrindo o telhado. O velho também o apaparicava de tempos a tempos. Se a vida lhe corria e chegava dos bens de testa desenrugada, punha-lhe a manápula na cabeça, meigamente, e prometia-lhe a vinda do patrão novo. Porque o seu verdadeiro dono era o filho, um doutor, que morava muito longe. Só aparecia na terra nas férias do Natal. Mas nessa altura pertencia-lhe inteiramente. Os outros apenas o tratavam, sustentavam, para que o menino tivesse cão quando chegasse. Apesar disso, no íntimo, considerava-se propriedade dos três: da filha, do velho e da velha. Com eles compartilhara aqueles longos oito anos de existência. Com eles passara Invernos, Outonos e Primaveras, numa paz de família unida. Também estimava o outro, o fidalgo da cidade, evidentemente, mas amizades cerimoniosas não se davam com o seu feitio. Gostava era da voz cristalina da dona nova, da índole daimosa da patroa velha e da mão calejada do velhote.

- Tens o teu patrão aí não tarda, Nero…
O nome fora-lhe posto quando chegou. Antes disso, lá onde nascera, não tinha chamadoiro. Nesse tempo não passava de um pobre lapuz sem apelido, muito gordo, muito maluco, sempre agarrado à mama da mãe, que lhe lambia o pêlo e o reconduzia à quentura do ninho, entra os dentes macios, mal o via afastar-se. Pouco mais. Com dois meses apenas, fez então aquela viagem longa, angustiosa, nos braços duros de um portador. Mas à chegada teve logo o amigo acolhimento da patroa nova. Festas no lombo, leite, sopas de café. De tal maneira, que quase se esqueceu da teta doce onde até ali encontrava a bem-aventurança, e dos irmãos sôfregos e birrentos.
- Nero! Nero! Anda cá, meu palerma!
A princípio não percebeu. Mas foi reparando que o som vinha sempre acompanhado de broa, de caldo ou de um migalho de toucinho . E acabou por entender. Era Nero. E ficou senhor do nome, como da sua coleira. (...) Até missa ouvia aos domingos, coisa que nenhum cão fazia. Aninhava-se a seu lado, e ficava-se a ver o padre, de saias, fazer gestos e dizer coisas que nunca pôde entender. Foi a seguir a uma cerimónia dessas que o doutor chegou à terra. Todo muito bem vestido, todo lorde. Quando viu aquele senhor beijar a rapariga, atirou-lhe uma ladradela, por descargo de consciência. E o estranho, então, olhou-o atentamente, deu um estalo com os dedos, a puxar-lhe pelos brios, e teve um comentário:
- O demónio do cachorro é bem bonito!
Envaideceu-se todo. Mas o homem perdeu-se logo em perguntas à irmã, em cumprimentos a quem estava, sem reparar mais nele. E não teve outro remédio senão segui-los à distância, num ressentimento provisório. Ao chegar a casa, foi direito ao cortelho. E ali esteve uma boa hora à espera, a morder-se de ansiedade. Por fim, o recém-vindo chamou do fundo da sala:
- Nero! Venha cá!
Era a posse. Havia naquela voz um timbre especial que o fez estremecer. Pela primeira vez sentia que tinha realmente um dono. Contudo, lá arranjou forças para se deixar ficar enroscado na palha, salamurdo, a fingir que dormia…
Mas a ordem voltou logo a seguir, mais forte, mais imperativa:
- Nero!
Ergueu-se. Subiu os degraus da loja e, humilde e desconfiado apresentou-se."

[...]
Excerto de Cão Nero, do livro Bichos de Miguel Torga

quinta-feira, 17 de julho de 2008

.non ti muovere.



"Io rimasi a guardarla. Credo che quello fu il giorno più felice della nostra vita insieme, ma naturalmente non ce ne acorgemmo."

"Quei capelli che ho carezzato di notte chinato sul tuo piccolo viso stretto nel broncio del sonno, mentre nascevano tanti pensieri per te."

Margaret Mazzantini

.mysterious skin.

"And as we sat there listening to the carolers, I wanted to tell Brian it was over now and everything would be okay. But that was a lie, plus, I couldn't speak anyway. I wish there was some way for us to go back and undo the past. But there wasn't. There was nothing we could do. So I just stayed silent and trying to telepathically communicate... how sorry I was about what had happened. And I thought of all the grief and sadness... and fucked up suffering in the world... and it made me want to escape. I wished with all my heart that we could just... Ieave this world behind. Rise like two angels in the night and magically... disappear."

.perenne amare.

(a fotografia é uma roubalhice à Vanessa. Grazie mia piccola scimia!)

Forse la giovinezza è solo questo perenne amare i sensi e non pentirsi.



Sandro Penna

.griffin & sabine.

"Realizing how much I love you, I burst into tears. I have not told you a hundredth of what I hold in my heart for you. I know that your journey has reached a turning point and I want to give you strength. I have loved you in every manner that my imagination could contrive. I have wanted you so deeply that my body sang with pain and pleasure.You have been my obsession, my passion, my philosophers' stone of fantasy. You are my desire, my longing, my spirit. I love you unconditionally. Do you hear me? Do you see that I cherish you beyond question, that you have nothing to prove to me? You are making your journey to secure yourself. I am already tethered to your side.If you can love yourself as I love you there will be no dislocation - you will be whole. Bring yourself home to me and I will immerse you in every ounce of tenderness I possess."

.caixinha de música.

O sal entrenhado na pele, os mergulhos, os castelos na areia, o fato de banho amarelo, a pele queimada pelo sol, o brilhozinho nos olhos, os cabelos molhados, apanhar conchinhas, andar de baloiço no pôr-do-sol, o cheirinho dos cozinhados da avó, dormitar, andar de bicicleta, os arranhões nos joelhos, jogar à macaca, fazer pulseiras no pátio, jogar ao mata, apertar os cordões, brincar no labirinto, colar os cromos na caderneta, correr, cair, rir...Quero tudo isto. Fechar a minha caixinha de música e abri-la de novo. Pô-la a tocar do início - viver tudo outra vez como se fosse a primeira. Tenho saudades daquela inocência de criança, daquele êxtase fácil...Toma! Vá lá! Fazemos uma troca: dou-te os meus livros para estudar, as minhas contas para pagar, os meu cartões - multibanco, contribuinte, passe social, eleitor, dador de sangue, todos! -, o meu telemóvel, o meu computador, o meu ipod, o frigorífico e os armários despovoados, os cafezinhos aqui e ali, a faculdade, os amigos, as pessoas, a casa por limpar, as viagens de expresso, a mala rota, as correrias e os atrasos... leva tudo! Só por um bocadinho... Volto não tarda nada, prometo!Prometo que volto. Prometo que trago comigo aquele sabor de outrora.Vou só procurar a criança que há em mim e já volto...