segunda-feira, 29 de junho de 2009

.apoio?.


Manufacturing #17, 
Deda Chicken Processing Plant, Dehui City, Jilin Province, 2005

Ao fim de um ano a trabalhar para o bem da cultura nacional, a trabalhar pior que precariamente, sem remuneração, com todos os deveres de um funcionário da casa acrescendo a responsabilidade de ser jovem e ter de prestar provas do meu valor, sinto-me exausta.
Estou cansada de um país onde é socialmente aceite que alguém que procure um primeiro emprego, alguém que diz o centro de emprego está posicionado no nível V de formação (palmas!), quer isto dizer alguém que andou a esforçar-se por fazer uma licenciatura de quatro anos em três enquanto arruína a conta parental, esse alguém deve trabalhar um ano chamado à boa maneira portuguesa à borla.
Um ano a trabalhar para o gabarito da cultura nacional, um ano de valentes horas extraordinárias, um ano de mais que muitas directas, um ano sem muitos fins-de-semana, um ano a pagar renda, um ano a pagar as contas, um ano a assumir todos os deveres com o direito a não me queixar.
Feitas as contas, passou pois um ano e a capacidade de executar, criar e projectar aumentou para o dobro e a paciência diminuiu para metade. Mas, eis que chega o dia em que cai na minha conta o primeiro ordenado.
Um salário, um salário verdadeiro sem cheques a passar por baixo da mesa ou fugas aos recibos verdes alheios. Um salário meu e com direito a subsídio de alimentação.
O entusiasmo é muito e merece um "dá cá mais cinco" com a amiga de sempre. Mas desengane-se o coração esperançoso, o Estado dá mas também tira. Dá um apoio ao primeiro emprego aos jovens licenciados que se traduz na atribuição do equivalente a dois IAS (Indexante de Apoio Social) livres de deduções, o célebre estágio profissional. Estágio esse, que é comunicado ao povo português heroicamente, rasgado a elogios ao esforço pela melhoria da empregabilidade em Portugal. No entanto, segundo me foi dito pela senhora simpática das finanças (verdadeiramente simpática), desde há dois anos que o mesmo está sujeito ao IRS (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares).

Afinal quem é que apoia quem??

1 comentário:

ATuna disse...

Muito bem dito, ou melhor... Muito bem escrito.
Recebi uma sms, ainda não a li, mas aposto que é tua.
Quanto ao apoio... Eu apoio-te... Desde que não me peças dinheiro emprestado.
Contudo...se estiver apertada de "massas" desenrascas-me?
Português é assim mesmo: "o último a entrar que feche a porta."


Todos temos direito ao trabalho e à justa remuneração do mesmo.
Quando tal não acontece... Pelo menos, ainda temos direito à INDIGNAÇÃO!