Naquela manha o sol batia nas pálpebras e os olhos inundavam-se de um fervor de luz. O fumo dos cigarros ardia distraído enquanto a Dona Rosa ensinava o amor a uma plateia de corações ávidos de plenitude.
A Dona Rosa como carinhosamente lhe chamam é uma senhora argentina, vive sozinha num apartamento de Buenos Aires. Tem 80 anos e preenche o seu tempo livre a pensar. Gosta de pensar no que está por trás das coisas. Gosta especialmente de pensar no que está por trás do amor. Para ela o amor é como a electricidade. É omnipresente, sabemo-la e sentimo-la. Em cada divagação matinal e desgrenhada em frente a um frigorífico, em cada momento de alienação perante uma televisão ou em cada procura imediata de luz quando entramos numa casa escura. Tudo se move em torno deste cosmos eléctrico que tão insistentemente esquecemos. Não reconhecemos o valor da força motora da electricidade. Não reconhecemos do mesmo modo, a potência geradora do amor.
1 comentário:
Continuo à espera da segunda parte ;)
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